Quando o céu amanhecia chuvoso
era certo que não poderia jogar futebol na rua, ir à piscina, subir em árvores ou andar de bicicleta, como faria num dia ensolarado. Para a maioria das crianças um dia chuvoso
representava um dia inacabado de espera ou um dia perdido.
Mas para mim nunca foi.
Na rua da minha casa sempre teve muitas crianças,
eram sempre umas dez brincando o dia inteiro. Tinham os mais velhos e os
mais novos. Costumávamos nos encontrar na esquina da minha casa para iniciar a
maratona de brincadeiras. Entretanto no dia chuvoooso e tenebrooooso...Era o dia de encontro
lá dentro da minha casa!
O espaço era a “salona” um lugar que tinha um piso de
madeira liso, um banheiro com pia de cobre (que naquela época falávamos que era
ouro) e fazia um eco tremendo, pois não tinha móveis, a única coisa que tinha
era um som de fita cassete e vinil. Nesta sala escutávamos aqueles vinis de historias
e quando cansávamos era o momento de gravarmos a “Rádio Abobrinha” – não me
lembro ao certo o que dizíamos nessa rádio e nem sei com quem ficou as fitas
cassetes com a gravação completa de todos os episódios do programa.
O que me lembro de fato é que eu (como a caçula do
grupo) tinha uma única função: falar “EPISODIO” e seu respectivo numero. Nesta
época eu devia ter uns 6 ou 7 anos e os mais velhos uns 13 anos. A primeira vez
que fui executar a função que a mim foi confiada estava nervosa, ensaiei uma
voz, mas me esqueci de perguntar uma coisa fundamental – O que era episodio? E se
dizia ePisodio ou eBisodio? Como todo mundo falava muito rápido eu resolvi não perguntar
e falei do jeito que eu achava que era certo, então saiu de minha boca um
tremendo “EBISÓDIO 1 – RADIO ABOBRINHA”, todos começaram a rir e eu não entendi o porquê, e isso se repetia em todos os outros EBiSÓDIOS que eu falava, só
depois de muito tempo fui descobrir o porque de tanto riso...e assim também me explicaram
o que significava esse tal palavrão - episodio.
Quando a chuva parava ou diminuía, era o momento mais esperado,
todos corriam pegar suas bicicletas (quem não tinha ia na garupa ou
acompanhava a pé). As meninas pegavam a sua Barbie, quem tinha mais de uma
emprestava para os meninos (com algumas ressalvas que depois explico quais
eram)
Era o momento do grande rally.
Atrás
da minha casa tinha uma plantação de soja muito grande e no meio tinha umas
trilhas de barro que ficavam todas cheias de poças. Lá passávamos com a bicicleta
para jogar lama propositalmente nos outros, as Barbies faziam daquelas poças
lameadas suas piscinas e lá ficávamos até entardecer.
Ah! Lembram das ressalvas que as meninas faziam quando
emprestavam suas Barbies para os meninos? Eram as seguintes:
1 – devolve-las inteiras.
2- lava-las depois, principalmente o cabelo.
3 – pentear o
cabelo.
4 – devolve-las cheirosas.
Todo esse procedimento acontecia na torneira do lado
de fora da minha casa.
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