sábado, 21 de fevereiro de 2015

O dia que fui alma.

Hoje o dia foi de muita, mas muita liberdade!

Encontrei a materialização de sentimentos que não imaginava sentir. Vi cores se transformarem, assim como meus pensamentos pintavam cada palavra no papel. Vi um Abaporu dentro de mim, renovando meu eu que entrava em mim que saía de mim e voltava pra mim. "Ao pó voltarás", lembrei dessa frase quando vi minhas mãos sujas de tinta, um vermelho bordô, quase terra, daquelas bem fortes que pigmentam os pés e ficam impregnadas no corpo.

Isso tudo, causado pelo poder da tinta, papel, e energias armazenadas que impulsionaram o processo de criação em 300%.

Vagando de quintal pra quintal, percebi o quanto fica em mim o que era do outro e o quanto do outro ficou pra mim. De novo, uma troca que contribui para a minha formação individual, mas sempre coletiva. Então, por que não juntar os trabalhos? Cada mãozinha colaborou do seu jeito, da sua cor, do seu tom, formando um mesmo pulso. A tinta vermelha jorrando em nossas mãos virou algo ancestral, uma representação artística dos nossos corações amassando, torcendo cada artéria, para doar mais um pouco de nós para a arte, ao teatro, feito para crianças de todas as idades. Essas mãos todas, viraram uma juba de Leão, o animal Rei da Selva, aquele que tem o rugido feroz e assustador, mas que cativa a todos com sua graça e beleza sedutora.

No outro Quintal, já nos transformamos em Roda, ói - ói - io - io, era minha poesia, no meio de um bando de seres, entidades, pincéis de Kandisnky, dançamos, deitamos, pulamos, gritamos e nos desprendemos de qualquer amarra, éramos livres! A roda nos trouxe pro centro de nós mesmos, um chafariz de Azul com branco, uma misticidade atrelada aos nossos espíritos nos levou a outro estágio, o SER ARTE.

No Quintal da Fé eu vi a sabedoria do renascimento, a tinta amarela que a Kamila usou me cativou imensamente, uma força impressionante. Destacando um momento na qual ela trouxe a tinta em suas mãos e lavava seu rosto. Uma imagem próxima de uma luz se alimentando de energia para transmitir aos seus amigos depois. Meu Índio interior, ou a minha entidade, seja lá o que for, ficou impressionado com tamanha energia amarela! Era o sol! Era Tupã.
A partir desse quintal me senti alimentado para prosseguir na busca.  Foi quando vi um Quintal delicado, dodói, com pequenas e GRANDES palavras, de solidão, de amor, de deslocamento.
Era o Quintal de Cecília, ou de Juliana? Não importa, estavam todos ali. Senti que as dores, representadas por palavras engraçadas, como Unha, Alicate, Band-Aid, me fizeram equilibrar e canalizar toda a anergia de uma criança ansiosa. A dor para a criança é um estágio difícil, que muitos de nós temos dificuldade de entende-las e facilidade em ignorar, mas um choro de machucado no joelho pode não ser só isso, as vezes temos dores do silencio. Dor em ver partir uma borboleta, a Joaninha que explorou minhas mãos como se fossem montanhas, Amigos, Família, memórias.
No entanto, esse quintal foi tomado por uma forte alegria, senti que saímos DALI (Salve, Salvador Dali) bem felizes por compartilhar das dores e fraternidade.
O Meu quintal inicial já estava uma bagunça, eu nem me sentia mais dele, todo mundo passou por lá e o deixou do avesso, Eu lembro que desenhei um olho na palavra SábiO, a palavra que deu o estarte para o trabalho, e de repente ele já era uma bola de tinta nos papéis. Será que dá pra esquecer um quintal assim? Sem se apegar? Talvez sim, mas de qualquer forma, aquela poesia foi a primeira, e dela não posso esquecer, pois inventei uma palavra nova, Sábadocicar, uma mistura de Sábado com Sábio com Adocicar, que deixa o dia melhor.

Fomos pro último Quintal, o do velho bagunceiro com alma de criança que nega tudo mas que brinca com todos, ufa. O escritor, personagem da outra história, já era uma misturança de coisas, um indiozinho carrancudo e traiçoeiro, com o qual criei uma grande amizade. Parecia que  havia sentido aquilo senti ao conhece-lo primeiramente, de que éramos amigos ha muito tempo. Foi divertido brincar no quintal dele, onde fortalecemos uma relação de energia que está em fase de desenvolvimento.

Após essa transitoriedade nos quintais, voltamos de fato aos quintais iniciais. Estava mais diferente de quando voltei o visitei pela primeira vez. Mudou tudo, mesmo. Era tudo preto (quando as cores se misturam, elas ficam todas pretas e o mais legal é ver como elas passam por uma metamorfose, a cada palmada, a cada tapa, a cada tombo, a cada toque, a cada derramamento de sangue artístico). Ao mesmo tempo que era um preto cheio de histórias, era uma solidão, um corte no cordão umbilical, senti que as experiencias foram embora e já era tarde a hora de deixá-las irem. E foram. Antigamente...
ANTIGA
M ENTE
poxa, já é hora de lembrar? Já é hora de pensar que foi tudo antigo?
E foi assim que fiquei ali, sentado, sentindo o frio da solidão. Cobri-me com um papel amarelo, a cor do grande sábio que também se foi. Anoiteceu. Encontrei uma companhia, uma boneca com cara quadrada e corpo de cilindro, ela meio que não gostava de rebolar.

Nos desfazendo desses quintais, era hora de começar algo novo, fomos para a limpeza, puxa aqui, estica lá, rasga acolá, amassa pra cá. Papéis, tintas, carimbos, cores, formas, sons, sabores, cheiros, éramos uma sopa de Jackson Pollock. Quando TUDO se mistura mesmo, TUDO que aconteceu, TODOS os sentimentos, indo como um grande descarte que não se joga fora, um DESCARTE que FICA. E ficou, comecei a trilhar um novo caminho no meio de tanta bola de coisas.
"Cansei, te alcancei, cansei, te alcancei, cansei, te alcancei" Essa brincadeira surgiu quando o garoto índio Blas me perseguiu durante o trajeto, e foi engraçado, formamos uma dupla, que nunca cansa! Começamos a limpar tudo com um grande Rio Azul de Papel, com grandes ondas levava toda "sujeira". Uma sinfonia tocou no meu ouvido de Tom naquela hora. "É o pé, é o chão, é a marcha estradeira/Passarinho na mão, pedra de atiradeira/É uma ave no céu, é uma ave no chão/É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão." (...)

Pela primeira vez, após a experiencia do dia anterior (na qual havia encontrado um estado brincante), me SENTI ARTE, foi onde entendi o nosso ofício, Fazer Arte apenas, não é SER, quando abrimos mão dos nossos obstáculos cotidianos, abrimos uma porta imensa de um quintal gigantesco chamado NÓS, descobrimos os mistérios que envolvem a nossa ancestralidade. Criamos um laço de união forte, de grupo que pensa junto, de mãos que se encontram e se agarram para segurar o outro, uma conexão de terra e raiz, em que qualquer temporal pode passar, nós estaremos lá, firmes e fortes, unidos. O que antes era utópico ou muito difícil de entender, ali se concretizou, um grupo forte que tem muito que aprender juntos, mas que estará sempre assim, de verdade.

Após a experiencia veio uma pergunta:
Como eram os homens das cavernas?
Felizes. Eu acho.


2 comentários:

  1. Incrível! E como não levar pra sempre um pedaço desse quintal???

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    1. Maravilhoso Ju! Não tem como não levar né? Haha, achei lindo como você guardou esse dia!!!

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